segunda-feira, 4 de agosto de 2014

CASA POR AMOR! (MIGUEL ESTEVES CARDOSO) LINNNNNDO!

Quando eu pensava que não podia ser mais feliz, manhã após manhã era mais, mas só um bocadinho mais do que o máximo humanamente possível; pensava eu ser absolutamente impossível que eu fosse, de repente, muito mais feliz, do que a própria felicidade até. Mas, de repente, fui. Muito mais. Casei com o meu amor e o meu amor tornou-se a minha mulher, minha em tudo, para tudo, para sempre. E eu, finalmente, consegui divorciar-me de mim e deixar de ser tão triste e aborrecidamente meu, trocando-me, no melhor negócio do século, por ela. Ela ficou minha. Eu fiquei dela. É ou não é estranho e lindo e bem pensado por Deus Nosso Senhor que ambos pensemos que nos livrámos de boa e ficámos a ganhar? É.

É sim. A minha mulher é mais minha do que eu alguma vez fui meu — e eu antes não podia ter sido mais para mim, felizmente. Por ter tudo agora para lhe dar. Que alívio. Nunca mais me quero ver na vida.
A não ser aos olhos dela, onde sou muito bem visto — talvez o maior homem que já viveu, logo a seguir ao pai dela, claro. É um milagre como melhorei tanto. E paradoxalmente sem deixar de ser eu por causa disso. Ou mesmo que deixasse, com tal amor não tinha saudades nenhumas.

Sou em termos estritamente matemáticos, amorosos e integrais, tanto mais dela como o todo absoluto que ela é e me deu.
Afinal o casamento é a maior ajuda que se pode receber. Passa-se a pertencer. E, em troca, passa-se a possuir. A pertencer e a possuir mesmo. Fica-se, por troca, sossegadamente apropriado e violentamente proprietário.
Não me venham com modernismos de meia-tigela, liberalices sem fundamento humano, tretas de quem não ama, de quem não aspira ser de outro, amado, que nos ama. Casar é trocar. Casar é trocar a liberdade podre, que é a de cada um, pela posse rica, que é a de quem se quer. E casando se passa a ter, absolutamente, por vontade de quem se dá e de quem recebe.

Casando por amor prescinde-se do nosso pior inimigo (nós próprios), entregando-o a quem sabe e gosta de aproveitá-lo, abusá-lo, tirar o maior prazer dele. E recebe-se quem mais queremos, para dela fazermos o que queremos, que é tudo.

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