domingo, 29 de novembro de 2015

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

ANIVERSÁRIO


"No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa como uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menina,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho... )
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
[Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa]

46 MESES!


segunda-feira, 23 de novembro de 2015

MÃE, ONDE QUER QUE ESTEJAS PARABÉNS PELOS 82 ANOS. JAMAIS TE ESQUECEREI!

Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,                          (Miguel Torga)
Que ficaste insensível e gelada.
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada.

Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.

Chamo aos gritos por ti — não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.

Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

domingo, 15 de novembro de 2015

La Marseillaise

Dizem que a morte muda tudo. Quando morre alguém que amas, o que fazes? Quando um sonho teu acaba, o que fazes? Estas duas perguntas causam-te muito medo!. E quando morreres quem vai ficar com teus livros favoritos? Quando morreres quem vai tomar de conta da tua coleção de conchinhas do mar? Quando morreres quem vai fazer o teu trabalho? Quando morreres quem vai cuidar da tua família? Quando morreres que marca deixas para a eternidade? quando morreres, quem te vai levar flores?... 
 
Agora, o bom de morrer é que não vais precisar de te preocupares com todas estas perguntas e sabes porquê? Porque dizem que morrer é mais difícil para os vivos, para os que ficam. É difícil dizer adeus. Em alguns casos, torna-se impossível. Nunca deixas de sentir a perda. Existem coisas que sempre nos trarão aquela dor novamente e assim, ela vai ser sentida ao lembrar de uma música, ao ler um livro, ao dormir e lembrar de algo, ao ver uma fotografia ou ao olhar para o lado e ver aquele vazio; e esse vazio alastrasse  para dentro de ti e deixa-te a grosso modo, oca também. Contudo, com o tempo, essa dor muda e transforma-se em  saudade e saudade é aquela sensação de aperto no peito, mas que ao mesmo tempo faz bem; é aquele sentimento que te vai fazer chorar ao recordar e logo de seguida sorrir por teres feito parte daquilo; por teres vivido aquilo e convivido com aquela pessoa. Ai pensas, nada é eterno, alguns de nós tem a hora para partir primeiro e então a  morte passa a fazer "sentindo". E isto tudo é o que faz da vida esta coisa agridoce."
 
 
(Com algumas nuances)


(Sou um ser feito de barro apenas)   


segunda-feira, 9 de novembro de 2015

M Ã E

"Mãe? Onde estás, mãe? Acho que estou doente, vem pôr-me a mão na testa e diz-me se estou mesmo. Só acredito em ti. Esfrega-me a barriga como só tu sabes fazer e liberta-me destas dores. Mãe? Onde estás, mãe? Anda para a minha beira, deixa-me deitar no teu colo como se fosse de novo bebé, nunca deixei de o ser para ti, pois não? Diz-me que vai ficar tudo bem, mãe, diz-me que já vai passar. Ajeita-me o cabelo e passa-me a mão no rosto e a dor vai-se embora. Ninguém melhor do que tu para me curar. No teu abraço eu acredito, no teu abraço não tenho medo, no teu abraço encontro paz. Não há abraço mais certo nem amor mais forte que o teu. Mãe? Onde estás mãe?"

Um texto de Raul minh`alma

sábado, 7 de novembro de 2015

É DIFÍCIL NÃO LEMBRAR DO QUE NUNCA SE ESQUECEU...

Hoje fui passear com uma rapariga que podia ser minha filha e que conheci há sensivelmente um ano num dos cursos que andei a tirar. Não é a primeira vez que o faço aliás saímos inúmeras vezes juntas inclusive para a praia íamos juntas. Apesar da diferença de idades, ela gosta da minha companhia e eu da dela e acho-a uma rapariga super responsável.  Hoje foi dia de irmos à  feira de Custóias e depois até ao Bolhão.

Por inúmeras vezes, me veio à ideia a minha adolescência, mais precisamente depois da minha chegada de Angola, os anos de dificuldades, os anos que tive que alargar os sapatos de uma prima para os meus pés e senti-me pequenina, senti a falta de meus pais, senti a falta do Nando, senti a falta de tanta coisa que depois tive e que perdi... tal como a vida que tinha antes de minha chegada a Portugal e por momentos fiquei "só"! literalmente só...

"O FEITIÇO VIROU-SE CONTRA O FEITICEIRO"


quinta-feira, 5 de novembro de 2015

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

domingo, 1 de novembro de 2015