segunda-feira, 23 de novembro de 2015

MÃE, ONDE QUER QUE ESTEJAS PARABÉNS PELOS 82 ANOS. JAMAIS TE ESQUECEREI!

Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,                          (Miguel Torga)
Que ficaste insensível e gelada.
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada.

Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.

Chamo aos gritos por ti — não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.

Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!

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